Exposição Narrativas de uma Destruição - Parte III - 2012
Sala Antonio Caringi do Centro Cultural Adail Bento Costa, Pelotas, RS.
"Narrativas de uma destruição - Parte III" - Raquel Ferreira, 2012
Raquel e o Mundo
Estilhaços, palavras soltas. Coisas que quebram, que rompem, que adentram o espaço da existência no limite entre o que era, entre o que se tornou.Há um pensamento possível sobre o trágico, inerente ao existir, que se apresenta no trabalho de Raquel Ferreira. Está ali o que escapa, o que não se enquadra, o que cria outra forma para deixar ver o precário, o transitório, o frágil. É preciso pensar sobre o perdido. Há tragicidade nisso.Na charada moderna nos diriam que o trabalho de Raquel é feito de resto, feito do que deixou de existir. Para os modernos, aqueles do enquadramento, da razão, do código, do projeto, do ponto de chegada (pré) visto, estaria ali o que surge através da destruição do objeto, da morte dele.No entanto, há outra dimensão possível: Outras formas, outras maneiras da existência, outros afetos que se erguem quando o dado, o certo, o objeto conhecido se perdeu e deu lugar a instáveis e infindas novas existências. Nesse sentido, o mundo poético de Raquel se encontra com o nosso, com tudo que pensávamos ter perdido, com tudo que escorreu, fugiu, com tudo que virou acidente, incidente. O Mundo de Raquel mostra o que nos escapa, expõe o que não anda pela estrada da correção, da certeza, do dado. Mas existe, se impõe, com formas que não se deixam prender pela via do conhecimento, que são selvagens a uma forma anterior e um anterior sentido que lhe dê lugar no mundo das coisas que conhecemos. Nas frases estão os alertas, vários deles. Sinais e recomendações para um caminho de manutenção que tenta insistentemente evitar o que roça o trágico, o que esbarra no jogar os pratos, no desestabilizar o posto, no deixar cair, no jogar pelo prazer de ver surgir o novo do que já quase não vive. Morte para vidas outras. O trabalho que encontra e desassossega os olhos-mentes do público, por ora nessa exposição, é antes de tudo afirmativo. Afirmativo da potência de gerar o vivo mesmo que pra isso seja preciso jogar todas as coisas pelo chão e esperar para ler no outro o que se dá quando descobre-se o possível no caos.
Texto: Igor SimõesProf. Assistente de História, Teoria e Crítica da Arte Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.
"Narratives of destruction – Part III" - Raquel Ferreira
Rachel and the World